segunda-feira, 28 de julho de 2008

Causo do pó de ouro

Estava buscando Igreja pra frequentar.

Onde ir?
Tentei a igreja Fulana[1], mas aqui era uma cópia barata da Igreja da metrópole, com os clones murchos dos seus astros e principais líderes. A Beltrana eu já discernia. A Igreja Sicrana também, então eu conheci uma igreja nova cujo foco era a Glória de Deus, abastecida teologicamente, ideologicamente e doutrinariamente nos moldes de Pensacola [2], leia-se Benny Hinn e seus derivados.
Tinha uma boa música, era biblicamente correta, tinha ar condicionado… Uma beleza.
Hasteava-se ali a bandeira de Israel ao lado da bandeira do Brasil. Até hoje não entendo por que não se hasteava ali também a bandeira dos Estados Unidos e não havia uma imagem do seu Presidente, tal a devoção do pastor pelo estilo americano.
O discurso funcionou por um ano e meio.
Havia ali uma manifestação “espiritual” onde surgiam “miraculosamente” partículas douradas nos cabelos de duas pessoas especificamente. Uma que circula o mundo “vendendo” o milagre e outra ali do grupo. Tais partículas refletiriam a “Glória de Deus” e seriam ou conteriam ouro. Disposto a não duvidar do poder de Deus e de nenhum milagre, “comprei” por um tempinho aquela manifestação, chegando a colocar um pouco daquilo na minha “Bíblia”.
Certo dia, minha filha me pediu para comprar gliter, necessário a um trabalho escolar. Percebi que a consistência e aparência do gliter eram semelhantes ao do “ouro” do “milagre”. Analisei com uma lupa e percebi que, salvo pelo corte, as partículas se assemelhavam em sua estrutura e coloração.
Habituado a lidar na adolescência com limalha de ouro, na oficina de meu pai, a qual era fundida e reaproveitada, resolvi improvisar um cadinho e tentar a queima do material.
Pois, o tal “ouro da unção” queimou como plástico, cheirou como plástico queimado e liberou fumaça negra como plástico, da mesma forma que o gliter comprado, de onde me veio uma certeza: a “unção” era a “unção do polipropileno” ou “unção do plástico”. Graças a essa “unção” eu comecei a ser liberto da doença.
Então, após esse tempo, dei por encerrada a minha busca por “igreja”. A esta altura, meus olhos já começavam a se abrir, após quase cinqüenta anos dentro de estruturas eclesiásticas. Restava ainda, um longo e solitário caminho de luta interior e discernimento em meio à frustração, ao sentimento de culpa e à busca por explicações que me pacificassem. Decidi, entretanto, aceitar o fato que nada me afastaria do amor de Cristo. ao fim, descobri que o amor do Deus Absoluto é maior do que tudo isso. Ele verdadeiramente reconcilia todas as coisas.

[1] Fulana – Igreja adepta da fórmula G12
[2] Pensacola – EUA – Localidade onde surgiu grande movimento de renovação espiritual com manifestações sobrenaturais da Glória de Deus – Não há aqui qualquer julgamento sobre fatos ou acontecimentos milagrosos

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