sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Livro de Melquisedeque - A Criação do Universo 2

O tão acalentado sonho do Criador se concretizara. Agora, como Pai carinhoso, conduzia as criaturas através de uma_eternidade de harmonia e paz. Em virtude do cumprimento das leis divinas, o Universo expandia-se em felicidade e glória._Havia um forte elo de amor, que a todos unia fortemente. Os seres racionais, dotados da capacidade de um desenvolvimento_infinito, encontravam indizível prazer em aprender os inesgotáveis tesouros da Sabedoria divina, transmitindo-os aos_semelhantes. Eram como canais por meio dos quais a Fonte da Eterna Vida nutria a todos de amor e luz.
Em Jerusalém, os ministros do reino reuniam-se ante o soberano Rei, sempre prontos a cumprir os Seus propósitos. Era_através de Lúcifer que o Eterno tornava manifesto os Seus desígnios. Depois de receber uma nova revelação, ele prontamente a transmitia às hostes angelicais. Estas, por sua vez, a compartilhavam com a criação. Em célere vôo os anjos rumavam para as terras planetas capitais, onde, em grandes assembléias, reuniam-se os representantes dos demais mundos.
Em muitas dessas assembléias, Lúcifer fazia-se presente, enchendo os participantes de alegria e admiração. Perfeito em todas as virtudes, ele os cativava com sua simpatia. Nenhum outro anjo conseguia revelar como ele os mistérios do amor do Eterno.

O Universo, alimentando-se da Fonte da Vida, expandia-se numa eternidade de perfeita paz. A obediência às leis divinas era o_fundamento de todo progresso e felicidade. Ainda que conscientes do livre-arbítrio, jamais subira ao coração de qualquer_criatura o desejo de se afastar do Criador. Assim foi por muito tempo, até que tal problema irrompeu na vida daquele que era_o mais íntimo do Eterno.
Lúcifer, que dedicara sua vida ao conhecimento dos mistérios da luz, sentiu-se aos poucos atraído pelas trevas. O Rei do_Universo, aos olhos de quem nada pode ser encoberto, acompanhou com tristeza os seus passos no caminho descendente que leva à morte. A princípio, uma pequena curiosidade levou Lúcifer a se aproximar daquele abismo profundo. Contemplando-o, ele começou a indagar o porquê de não poder compreender o seu enigma.
Retornando a seu lugar de honra, junto ao trono, prostrou-se ante o divino Rei, suplicando-Lhe:
- Pai, dá-me a conhecer os segredos das trevas, assim como me revelas a luz.
Ante o pedido do formoso anjo, o Eterno, com voz expressiva de tristeza, disse-lhe:
- Meu filho, você foi criado para a luz, que é vida.
Convencendo-se de que o Criador não lhe revelaria os tesouros das trevas, Lúcifer decidiu compreender por si mesmo o_enigma. Julgava-se capacitado para tanto.
Só Deus sabia o que se passava no coração de Lúcifer. O anjo, que fora criado para ser o portador da luz, estava_divorciando-se em pensamentos do bondoso Criador que, num esforço de impedir o desastre, rogava-lhe permanecer a Seu_lado.
Uma tremenda luta passou a travar-se em seu íntimo. O desejo de conhecer o sentido das trevas era imenso, contudo, os rogos_daquele amoroso Pai, a quem não queria também perder, o torturavam. Vendo o sofrimento que sua atitude causava ao_Criador, às vezes demonstrava arrependimento, mas voltava a cair.
Antes de criar o Universo, Deus já previra a possibilidade de uma rebelião. O risco de conceder liberdade às criaturas era_imenso, mas, sem este dom, a vida não teria sentido. _ Ele queria que a obediência fosse fruto de reconhecimento e amor, por isso decidiu correr o grande_risco.
Ainda que prosseguisse na busca do sentido das trevas, Lúcifer não pretendia abandonar a luz. Esforçava-se para chegar a_uma combinação entre essas partes que, no reino do Eterno, coexistiam separadas. Finalmente, com um sentimento de_exaltação, concebeu uma teoria enganosa, que pretendia apresentar ao Universo como um novo sistema de governo, superior ao governar do Eterno. Denominou sua Lei "a ciência do bem e do mal".
Estruturada na lógica, a ciência do bem e do mal revelou-se atraente aos olhos de Lúcifer, parecendo descerrar um sentido de_vida superior àquele oferecido pelo Criador, cujo reino possibilitava unicamente o conhecimento experimental do bem. No_novo sistema, haveria equilíbrio entre o bem e o mal, entre o amor e o egoísmo, entre a luz e as trevas.
Ao longo do tempo em que amadurecera em sua mente a ciência do bem e do mal, Lúcifer soube guardar segredo diante do_Universo. Continuava em seu posto de honra, cumprindo a função de Portador da Luz. Contudo, por mais que procurasse_fingir, seu semblante já não revelava alegria em servir ao Eterno.
O divino Rei, que sofria em silêncio, procurava, por meio de Suas revelações de amor, preparar as criaturas racionais para a_grande prova que se aproximava. Sabia que muitos dariam ouvido à tentação, voltando-Lhe as costas. A noite da provação_faria sobressair, contudo, os verdadeiros fiéis - aqueles que serviam ao Criador não por interesse, mas por amor.
Ao ver que a hora da prova chegara, e que Lúcifer estava pronto para traí-Lo diante do Universo, o Eterno, que jamais_cessara de revelar os tesouros de Sua sabedoria, tornou-se silencioso e contemplativo. O silêncio fez reviver no coração das_hostes a lembrança daquela primeira excursão sideral, quando, depois de lhes mostrar as riquezas do reino da luz, Deus_tornou-se silencioso ante aquele abismo. Lembram-se de Suas palavras: "Todos os tesouros da luz estarão abertos ao vosso_conhecimento, menos os segredos ocultos pelas trevas. Sois livres para me servirem ou não. Amando a luz estareis ligados à_Fonte da Vida".
Lúcifer, que passara a cobiçar o trono de Deus, indagou-Lhe o motivo de Seu silêncio. O Criador, contemplando-o com_infinita tristeza, disse-lhe: "É chegada a hora das trevas. Você é livre para realizar seus propósitos".
Vendo que o momento propício para a propagação de sua teoria havia chegado, Lúcifer convocou os anjos para uma reunião_especial. As hostes, desejosas de conhecer o significado do silêncio do Pai, tomaram seus lugares junto ao magnífico anjo, que_sempre lhes revelara os tesouros do reino da luz.
Lúcifer começou seu discurso exaltando, como de costume, o governo do Eterno. Num amplo retrospecto, lembrou-lhes as_grandiosas revelações que os enriquecera em toda aquela eternidade.
O silêncio divino, apresentou-o como sendo a indicação de que o Universo alcançara a plenitude do conhecimento oriundo da_luz. Silenciando, o Eterno abria-lhes caminho para o entendimento de mistérios ainda não sondados, mantidos até então além_dos limites de Seu governo.
Surpresas, as hostes tomaram conhecimento da experiência de Lúcifer sobre as trevas. Com eloqüência, ele falou-lhes da_ciência do bem e do mal, indicando-a como o caminho das maiores realizações.
O efeito de suas palavras logo se fez sentir em todo o Universo. A questão era decisiva e explosiva, gerando pela primeira vez_discórdia. Os seres racionais, em sua prova, tinham de optar por permanecer somente com o conhecimento da luz, o qual_Lúcifer afirmava haver chegado ao seu limite, ou se aventurar no conhecimento da ciência do bem e do mal. No começo, os_anjos debateram-se diante da questão, sendo logo depois todo o Universo posto à prova. Dir-se-ia que a ciência do bem e do_mal haveria de arrebanhar a maior parte das criaturas, mas, aos poucos, muitos que a princípio se empolgaram com a teoria,_despertaram para a ilusão da mesma, reafirmando sua fidelidade ao reino da luz. Ao fim desse conflito, que se arrastou por_longo tempo, revelou-se um terço das estrelas do céu ao lado de Lúcifer, e as restantes, ainda que abaladas pela prova ao lado_do Eterno.
A ciência do bem e do mal fora apregoada por Lúcifer como um novo sistema de governo. Mas como exercê-lo, se o Eterno_continuava reinando em Sião? O conselho, formado pelos anjos rebeldes, passou a tratar disso. Decidiram, finalmente, solicitar-Lhe o trono por um tempo determinado, no qual poderiam demonstrar a excelência do novo sistema de governo. Caso fosse aprovado pelo Universo, o novo sistema se estabeleceria para sempre; caso contrário, o domínio retornaria ao Criador.
Foi assim que Lúcifer, acompanhado por suas hostes, aproximou-se d'Aquele Pai sofredor, fazendo-Lhe tal pedido.
O Eterno não era ambicioso, apenas queria bem às Suas criaturas. Se a ciência do bem e do mal consistisse realmente num_bem maior, não Se oporia à sua implantação, cedendo o trono a seus defensores. Mas Ele sabia que aquele caminho conduziria_à infelicidade e à morte.
Movido por Seu amor protetor, o Criador desatendeu o pedido das hostes rebeldes, que se afastaram enfurecidas.
Lúcifer e suas hostes passaram a acusar o divino Rei, proclamando ser o seu governo de tirania._Afirmavam ser sua permanência no trono a mais patente demonstração de Sua arbitrariedade. Não lhes concedera liberdade de escolha? Por que neutralizá-la agora, impedindo-os de pôr em prática um sistema de governo superior?
As acusações das hostes rebeldes repercutiram por todo o Universo, fazendo parecer que o governo do Eterno era injusto._Isto trouxe profunda angústia àqueles que permaneciam fiéis ao reino da luz. Não sabendo como refutar tais acusações, essas_criaturas, emudecidas pela dor moral, ansiavam pelo momento em que novas revelações procedentes do Criador pudessem_aclarar-lhes os mistérios desse grande conflito.
As acusações e blasfêmias das hostes rebeldes alcançavam o ponto culminante quando o Eterno, num gesto surpreendente,_ergueu-se de Seu trono, como que pronto a deixá-lo. Os infiéis, na expectativa de uma conquista, aquietaram-se, enquanto um_sentimento de temor penetrava no coração dos súditos da luz. Entregaria Ele o domínio de toda a criação, para livrar-Se das_vis acusações? De acordo com a lógica a partir da qual Lúcifer fundamentava seus ensinamentos, não restava outra alternativa_ao Criador. Nesta tremenda expectativa, o Universo acompanhava os passos de Deus.
Num gesto de humildade, o Criador despojou-Se de Sua coroa e de Seu manto real, depondo-os sobre o alvo trono. Em Seu_semblante não havia expressão de ressentimento ou ira, mas de infinito amor e tristeza.
Com solenidade, o Eterno proclamou que o momento decisivo chegara, quando cada criatura deveria selar sua decisão ao lado_da luz ou das trevas. Numa ampla revelação, alertou para as conseqüências de um rompimento com a Fonte da Vida.
Lúcifer e seus seguidores estavam conscientes da seriedade daquele momento. _ Vendo que o Trono permanecia vazio, Lúcifer e suas hostes, dominados pela cobiça, romperam definitivamente com_o Criador
Ao ver um terço dos súditos transpor as divisas da eterna separação, Deus deixou extravasar a dor angustiante que por tanto tempo martirizava Seu coração, curvando-Se em inconsolável pranto. Contemplando Seus filhos rebeldes, ergueu a voz numa lamentação dolorosa: "Meus filhos, meus filhos! Já não posso chamá-los assim! Queria tanto tê-los nos braços meus!_Lembro-Me quando os formei com carinho! Vocês surgiram felizes e perfeitos, em acordes de esperança em eterna harmonia!_Vivi para vocês, cobrindo-os de glória e poder! Vocês foram a minha alegria! Por que seus corações mudaram tanto? O que_mais poderia eu ter feito para fazê-los permanecer comigo? Hoje minh'alma sangra em dor pela separação eterna! Como_olharei para os lugares vazios onde tantas vezes rejubilantes ergueram as vozes em hosanas festivas, sem me vir à mente um_misto da felicidade e dor?! Saudade infinita já invade o meu ser, e sei que será eterna!
Hoje o meu coração rompeu e quebrou-se; as cicatrizes carregarei para sempre!
Depois de proclamar em pranto tão dolorosa lamentação, o Eterno, dirigindo-Se a Lúcifer, o causador de todo o mal, disse:_"Você recebeu um nome de honra ao ser criado. Agora não mais o chamarão Lúcifer, mas Satã, O Senhor das Trevas".
Depois de lamentar a perdição das hostes rebeldes, o Eterno, em lentos passos, ausentou-se do jardim do Éden, lugar do trono_Universal.. Onde seria agora a Sua morada....
As hostes fiéis acompanharam reverentes os Seus misteriosos passos de abandono, que pareciam descerrar um futuro difícil, de_sofrimentos e humilhações. Ocupariam os rebeldes o divino trono, profanando-o como domínio do pecado? Esta indagação_torturava o coração dos súditos do Eterno.
Deixando Sua amada Cidade, o Senhor da luz conduziu-Se, em meio às glórias do Universo, em direção do abismo imenso, a_respeito do qual silenciara até então. Ali deteve-Se mais uma vez, emudecido, enquanto parecia ler nas trevas um futuro de_grandes lutas. Ante o sofrimento do Eterno, expresso na tristeza de Seu semblante, os fiéis puderam finalmente compreender o_significado daquele misterioso abismo: consistia numa representação simbólica do reino da rebeldia.
Na face entristecida de Deus manifestou-se, por fim, um brilho que aos fiéis animou. Erguendo os poderosos braços ante as_trevas, ordenou em alta voz: "Haja luz."
Imediatamente, a luz de Sua presença inundou o profundo abismo e, triunfando sobre as trevas, revelou um mundo inacabado,_coberto por cristalinas águas. Com esse gesto, iniciava o Eterno uma grande batalha pela reivindicação de Seu governo de luz;_batalha do amor contra o egoísmo; da justiça contra a injustiça; da humildade contra o orgulho; da liberdade contra a_escravidão; da vida contra a morte. Batalha que, sem trégua, se estenderia até que, no alvorecer almejado, pudesse o divino_Rei retornar vitorioso ao santo monte Sião, onde, entronizado em meio aos louvores dos remidos, reinaria para sempre em_perfeita paz. As trevas, em sua fuga, apontavam para o aniquilamento final da rebeldia.
As águas abundantes que cobriam aquele mundo, até então oculto, simbolizavam a vida eterna que para os fiéis seria_conquistada pelo amor que tudo sacrifica.
O mundo revelado era a Terra. Visitada pelas trevas e pela luz, ela seria o palco da grande luta.

Rejubilavam-se os fiéis ante o triunfo da luz naquele primeiro dia, quando as trevas em sua fúria rolaram sobre o planeta,_sucumbindo-o em densa escuridão. A luz, que parecia vencida, renasceu vitoriosa num lindo alvorecer.
Ao raiar a luz do segundo dia, o Eterno ordenou: "Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre água e_águas."
Imediatamente, o calor de Sua luz fez com que imensa quantidade de vapor se elevasse das águas, envolvendo o planeta num_manto de transparência anil. Surgiu assim a atmosfera, com sua mistura perfeita de gases que seriam essenciais à vida que em_breve coroaria o planeta. O Criador, contemplando a expansão, denominou-a "céus".
A atmosfera, que cheia de brilho envolvia a Terra, sombreou-se ao sobrevir o crepúsculo de um outro entardecer.

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